que tanto me fez sorrir. Era uma música eterna, companheiros. Uma melodia sem fim ouvida desde o interior, como a vida que vai escorregando por nós. Olho-vos, desde a promessa de amor num lugar qualquer do passado até ao beijo que darão quando a música cessar. Caminho amparado novamente no meu cajado, caminho à luz tépida da lua de Verão e deixo um desejo que permanece ainda. Espreito-vos pela frincha de uma vírgula deixada ao acaso no tempo, uma vírgula que pausa a vida quando tem de ser, uma vírgula que sustenta a vida como este cajado. Por vezes, amigos, sabe bem parar… e olhar. Olhar e perceber quem somos, o que fazemos. Tentar descobrir o que nos faz viver enquanto existimos. Avanço. Estou parado, aparentemente sem movimento, quieto em mim, à medida que a vida lá fora passa e vai e me arrasta com ela. Amigos, vou-vos deixando na distância, articulando-me outro, numa situação outra, sendo todavia o mesmo diferentemente, porque em tudo o que me altera, e vocês mudaram-me, permaneço eu, continuamente, passeando ainda os dedos pela gaita-de-foles e olhando na imensidão da distância negra a esperança que me falta.
Ficou para trás, mas tão presente, tão agora, tão imenso em mim, como todos os pequenos momentos que guardo na minha memória. Por isso, escrevi-o com uma vírgula. Toda a minha vida tem sido feita com pequenas mas marcadas vírgulas, que me sustentam e me fazem homem quando olho para trás. E vou seguindo, companheiros, mesmo tendo ficado convosco, separando os momentos por vírgulas para que eu na vida seja sempre igual-outro; e vou, amparando o peso, que incha durante o caminho, com a robustez deste cajado. O tempo, na imensidão plena que cada um pode sentir, não tem pontos finais, nem parágrafos, nem frases grandes, truncadas com orações de gramática estéril. A vida tem uma frase, longa, eterna, minha, que se vai fazendo ancorada em passagens mais ou menos abruptas, mais ou menos sentidas. Um momento, uma vírgula. São pequenas pausas, ora de semínima, mínimas, às vezes de colcheia, por tão breves serem… outras vezes são pausas de semibreve, que nos fazem esperar quatro tempos, em quaternário, lembrando-nos que a vida tem de ter compassos de espera para que avancemos pelo ritmo vital.
Ficou para trás, mas tão presente, tão agora, tão imenso em mim, como todos os pequenos momentos que guardo na minha memória. Por isso, escrevi-o com uma vírgula. Toda a minha vida tem sido feita com pequenas mas marcadas vírgulas, que me sustentam e me fazem homem quando olho para trás. E vou seguindo, companheiros, mesmo tendo ficado convosco, separando os momentos por vírgulas para que eu na vida seja sempre igual-outro; e vou, amparando o peso, que incha durante o caminho, com a robustez deste cajado. O tempo, na imensidão plena que cada um pode sentir, não tem pontos finais, nem parágrafos, nem frases grandes, truncadas com orações de gramática estéril. A vida tem uma frase, longa, eterna, minha, que se vai fazendo ancorada em passagens mais ou menos abruptas, mais ou menos sentidas. Um momento, uma vírgula. São pequenas pausas, ora de semínima, mínimas, às vezes de colcheia, por tão breves serem… outras vezes são pausas de semibreve, que nos fazem esperar quatro tempos, em quaternário, lembrando-nos que a vida tem de ter compassos de espera para que avancemos pelo ritmo vital.
Faço agora parágrafo, neste diário que tantas vezes me inscreve no tempo. Não porque queira, mas porque pontualmente temos de nos vergar a pequenos detalhes de convenções e acordos. Para que nos seja mais fácil viver, para que possamos ter uma bitola que nos auxilie. Por isso, condescendo, faço-o, e vou; riscando no papel pequenas vírgulas, quase que num despropósito nominal, numa reiteração desnecessária, pois toda a vírgula é fatidicamente pequena. Pena é que não a consigamos viver musicalmente em vida com o simples valor que ela tem. Um tempo. Breve. Calmo. Necessário. E lá estás tu, José, bom amigo, veterinário que aprendeu a curar-se do egoísmo da profissão; e tu Anabela, que soubeste ser mulher falando as palavras que te faltavam. Escuto-te e sorrio. A tua voz: Vira à direita. Calma. Agora dá dois passos em frente. Agora ligeiramente à esquerda. Vem sempre. Linda, quando soubeste pôr as palavras por dentro da emoção. Caminho. Escrevo, olhando a pequena vírgula que deixei quando dizia adeus em amizade àquelas duas pessoas.
Para trás continuo a estar eu, assim, como estou, mas mais perto de mim. Titubeiam-me as palavras, acho-as desprezíveis quando me olho para trás. De nada servem, de nada valem, se não foram ditas na altura exacta. Agora, nada valem, de nada me valem. José, Anabela, os dois, venham, venham, até mim, agora, sim, sim, agora, e sintam que fazem parte de mim em amizade e que por isso nenhuma vírgula se oporá a nós e viveremos em polissíndeto contínuo com um e de eterno. E escrevo, assim a olhar o vazio, a sair da cidade, a tentar perceber o que a vida tem para nos dar. Anda. A estrada está vazia… salpicada de branco ao centro e eu no meio. No centro do nada, no entre, em cima da vírgula que teimo em apelidar de cajado. Entre os momentos em que aconteço na existência que sou. Caminho para longe de vós, carregando-vos impossivelmente em mim, por isso não pude parar de tocar a vossa música, não pude desenhar um ponto final, porque afinal ele não existe no contínuo interminável desta música-viagem que somos enquanto existimos. A estrada enegrece o longe numa escuridão infinita. E apetece-me virgular a tua imensidão, curvar-te um pouco para mim. Travar o teu infinito e tornar-te minha, como se fosse possível ao Homem ter a Vida. Quero sentir-te. Pausar um pouco. Olhar para ser mais real a vida que “realmente” vivo. E depois, amar. Amar-te eternamente, a ti que nasces desde o sonho para acariciares a minha caminhada. Vou. O Viagente aproveita o nada que todas as noites nos trazem, o silêncio do frio, o tremor do ruído ao fundo, o parado que as pessoas fazem para recuperarem o dia que já não tarda.
A auto-estrada que passava por aquela cidade era uma das artérias mais movimentadas do país. Automóveis ligeiros e pesados, mercadorias e pessoas, aos montes, em corrupio passavam por ali. Por ali, o norte e o sul encontravam a sua ligação. Era de noite, madrugada, e não passava ninguém. Da estrada secundária em que estava erguia-se uma pequena vedação em arame, para proteger uma freeway de invasões de animais ou de pessoas. O silêncio descia sobre a solidão do Viagente. José, onde estás? Ausência. A vertigem da solidão penetrava pela distância intangível da estrada. Anabela?, grita. Porém, dentro do Viagente algo dizia para ultrapassar aquela cerca, num impulso quase suicida, inquestionavelmente irracional. Queria passar, sentir aquele terreno de ninguém, que tanta gente frequentava mas que realmente nunca podia estar. Não havia luzes ao fundo. O negro da freeway onde já se encontrava absorve o som para lá, para o lá onde dorme a angústia humana. “Acordaste e percebeste que estás só…” José? O Viagente olha para trás, mas a estrada está deserta como um caminho livre. As cores do festival que animavam a cidade eram sugadas pelo escuro infinito que o envolvia. “Aqui, no centro do nada, posso escolher o tudo que sou!” Olhava a recta interminável, vazia, quase nula, salpicada apenas pela luz pálida da lua. “O que vês?” Que voz era esta? Pára e roda sobre si mesmo para escutar. Fecha os olhos, a mesma escuridão. “O que vês?” “A liberdade de ir para onde quero. A liberdade de ser o que sou sem medo.” Ele estava só. “Mas estás sozinho.” A liberdade no caminho é leve e solta como a angústia de não o partilhar com quem quer caminhar connosco. O Viagente olhava para lá, como se fosse para depois, e via o negro, no princípio da angústia; voltava-se, não via a cidade no longe negro imensurável de uma outra angústia – aquela de não poder trazer o passado para o presente quando se está tão só.
A freeway alongava-se pelo espaço como uma estrada no tempo. O Viagente senta-se no descontinuado do traço branco ao meio. Senta-se de costas para o princípio, de frente para o fim. A estrada e ele. O alcatrão ainda está quente do castigo que o Sol e os pneus das viaturas lhe impuseram. Senta-se sem nada, deixando os seus pertences perto da tal vedação. Teme por não saber o que lhe pode surgir pelas costas. Sente-se tonto, aturdido pelo não movimento, pelo não barulho, pelo não nada. Roda, roda, roda, sozinho, e finalmente deita-se. Atrás de si, o negro do alcatrão; à sua frente, o negro do céu cravejado de pontos luminosos. Onde estou? No nada… nada, no nada… Como está, parece que debaixo de si tem o céu e que por momentos foi colado a um céu concreto, com alcatrão para que não pudesse dali fugir. Nada, no nada... e por isso grita: Nada!
Ele voltava a caminhar. “Para onde vais?” Quem fala? Talvez a tua voz a ti mesmo, ou talvez sejam as palavras do teu diário que quiseram ser vida e optaram por se fazer notar a ti, como a última companhia que te resta. Optaram, afinal, como tu optaste por te deixares em solidão. Ainda te lembras da companheira que não soubeste ter? Ele estava só, ansiando ouvir, talvez ouvir-te, amor, tu que moras já tão lá longe… “no interstício de duas vírgulas que desenhei sem habilidade na folha virgem da minha vida.” Onde estás?, grita finalmente, como se a liberdade de estar vivo o obrigasse a afirmar-se em face da inexistência que o circundava. Onde estás? Onde estás?, ouviu ecoar. Os outros dormem. Insónias, insónias de liberdade assaltam-nos tantas e tantas vezes. Só. No meio da freeway, onde os outros estão tantas vezes mas nunca o sentiram como seu.
A vertigem do nada impele o Viagente a sair dali. A sensação possível de se ser espezinhado pelo medo de nos vermos obriga-nos a recuar. Não queria ser pisado; não mais, não agora, não ali. A freeway continua deserta e nenhum veículo ousa interromper aquele momento de penitência. Levanta-se pesadamente, toma os seus haveres e avança. As palavras ecoam-lhe, como se tivessem ficado vivas nos seus ouvidos. Onde estás, onde estás, onde estás… esticando ao máximo umas reticências mortificadoras por não mais estancarem aquele zunido dentro dos seus ouvidos. A pé, sempre a pé, pela berma da estrada, retomara uma vez mais o seu caminho.
A solidão dói porque nos denuncia a nós mesmos. Onde estás? Ainda escutava a voz que ecoava pelo infinito da distância até ao nascente, onde os primeiros raios de sol espreitavam por trás das montanhas. E depois, ficamos sós, e quando voltamos a nós, tudo o que deixámos esquecido, no que fomos para os outros, regressa flagrantemente. Onde estás? O Viagente sente-se cansado, como se a sua existência lhe pesasse intensamente. As palavras continuam-lhe presentes, sempre ecoando. Onde estás, onde estás… Estás perdido agora no nada que as searas cortadas nos trazem; tens apenas a estrada que te leva e deixas-te ir. O Viagente caminhava para a nascente da voz, como se andasse para o princípio de si. Onde nos deixamos nos destroços dos dias que passam? Ao Viagente restava ele mesmo. Apoiado no seu cajado, prossegue a caminhada; como um peregrino procurando-se na paisagem que (ainda) não vê. A solidão é tudo o que resta ao homem, quando a vida deixa de ser intacta. Por isso, seguia. Onde estás? “Não sei. Não sei em que lugar existo e o que sobra dos outros em mim…” Caminhava em direcção ao oriente, calcando aquela freeway como a liberdade impossível de todos os caminhos que o homem deve poder ser. Estava só. Os ecos da sua fala, no longe, surgiam mais nítidos: … o que sobra dos outros em mim…
Ao lado direito da estrada, em cima de um pequeno monte, o escuro da noite deixa antever um cemitério. Muros de cal branca agarram perpetuamente um portão de ferro verde-ferrugem. Estava semi-aberto. Irresistivelmente, ele queria transpô-lo, como se procurasse no eco que ouvia a solução para si. Onde estás? Por isso, queria prosseguir por entre o cheiro das flores levemente orvalhadas pelo fresco matinal. Por isso, procurava no alguém que lá estaria uma resposta qualquer, uma explicação. Na parte de fora desse cemitério, ergue-se um carvalho grande como o tempo, com um tronco moído de tantos corpos ter visto passar. Faz sombra. Emudece. Em si tem uma bicicleta encostada, uma bicicleta antiga e já quase calcinada nas articulações que a fazem andar. O Viagente, olhando aquele cenário, ouve o eco mais forte. Não estava longe. Segue pelo caminho de terra batida, que nasce do cemitério. A bicicleta abandonada; o carvalho coberto pelo pó; o portão semi-aberto. Onde estás? Queres entrar mas tens medo, tens medo do escuro que o cemitério pinta na existência de cada homem. Onde estás, onde estás… O portão chia quando o Viagente o força para entrar. A solidão queima a vida como os raios de sol que brilham sobre o mármore do cemitério que surgia. Onde estás? Para trás ficava o imenso negro do tempo que foi. Impossivelmente, o Viagente olhou para trás. Ainda te atreves a chamá-los? “Onde ficaste tu, José, no impossível que vivi? E tu, Anabela, amiga desconhecida no tempo em que foste em mim?” Descansa. E a solidão que te sirva de companhia. Ecos de palavras que podiam ser tuas, Viagente, ou que são, mas que ainda não sabes. Ecos vindos de lá, desse cemitério, do lugar nascente de onde o sol agora emerge.
Ainda é de noite, ainda que se anteveja com brevidade a aurora de todos os dias. O cemitério organiza-se em duas grandes avenidas perpendiculares. Os talhões nascem do buxo verde e muito agreste, que teima em roçar quando a carreta passa carregada pelo caixão. Ao fundo, no topo, surge uma ara em pedra mármore branca. Não há nenhum templo, não há vestígios de nenhum deus, apenas lajes que calafetam as sepulturas. O Viagente inexplicavelmente entra. Entra porque tem de entrar. Entra porque está perto, entra porque sim, como se esse sim fosse a razão de se encontrar. Avança até ao centro do cemitério. Sente-se o cheiro do verde dos buxos e do fósforo que os corpos poderiam libertar. Vazio, cheio de gente. Morta. Numa campa, um idoso dobrado acariciava uma fotografia esbatida da mulher que ali jazia. Onde estás?, perguntava o velho. “Estou aqui!” Estás aí, sim… estás agora aqui. E o homem toca com os lábios o rosto molhado da fotografia: a companhia que te sobra és tu mesmo e tens-te aqui, onde tu estás agora; ouve-te, para que a solidão seja a tua companhia e o caminho para o outro.
Aproxima-se. Bom dia! Por aqui? Precisas de ajuda?, pergunta o Viagente. Tu ainda não sabias que há questões que levam a interrogação para depois do homem e que não podem, por isso, ser respondidas… Apenas o eco, gritando ajuda e um velho que se sentava ao lado da campa e olhava-te desde muito longe, desde o futuro que ainda não sabes. O Viagente abeira-se dele e senta-se sobre a terra húmida para ver melhor. E aqueles olhos claros, eram verdes?, da tua mulher que o observavam desde a fotografia quase morta; aqueles olhos fitavam-no como um passado que regressasse, um passado que afinal nunca terminou. O velho, de raro cabelo e barba grisalha, não falava. Esperava que as palavras do Viagente fizessem jus à despesa de uma resposta, porque na idade que representava havia que medir as despesas da vida, para que ela não pesasse desnecessariamente. “E há palavras, companheiro, que só podem ser ditas quando o sentimento as enche e o acto que eu sou as prolonga na minha existência…”
O Viagente estancou, olhou os fios lisos do cabelo castanho da mulher que acompanhava o velho e escutou na distância da montanha as palavras que ele tinha dito: …existência… ou seriam palavras do seu diário que ainda não tinha escrito? Estremeceu menos no frio matinal que agora era bafejado pelo sol. Via melhor o velho. Olhava o seu rosto. Na sua boca descansava um sorriso qualquer que estava gravado nas rugas. “Porque a vida é linda, jovem… quando somos amados pela mais bela mulher!” Ela também sorria. Guardava um sorriso para a vida na eternidade da sua presença ausente. Era um sorriso breve, como a delicadeza da sua face, um sorriso breve como o amor na vida do Viagente. O velho toca-lhe a face e ela sorri mais numa renovada fotografia, mais nítida, viva, como ela não podia estar. O Viagente estremece. Havia qualquer coisa sua naquela fotografia. “Dulce!”, gritou com a força da lembrança dos seus momentos mais doces que tinham ficado na sua vida antes de partir. “Dulce!” e o teu nome melodiava-se na eternidade do silêncio da montanha; dançava ao lado do sol, nítido e vivo; beijava a lua que se escondia por trás da claridade… “E o teu nome gritado por dentro da minha vida ecoa no meu silêncio e leva-me para onde não sei.” Não vale a pena!, sentencia o Viagente. A vida da tua mulher terminou e não deves perseguir o impossível aqui, a estas horas, porque só te vais magoar mais e mais. O velho segurava a lápide com uma ternura infantil; trazia um brilho louco no olhar, por isso não respondeu ao Viagente. Há certas verdades que temos de deixar que os jovens as descubram. Não podem ser ditas, têm de ser vividas e só então têm as palavras suficientes para as cumprirem. O Viagente ainda não sabia que o amor era maior do que a morte e que a vida pode cumprir-se num ritual, transcendendo-a. Ele ainda não sabia, por isso o velho não lhe podia dizer. Agarrou a sua mão e perguntou: És feliz? O Viagente recuou. Aquele toque, aquela pele que lhe parecia a sua, mas envelhecida, e tu, Dulce, naquela fotografia de uma senhora que desconhecia… Recuou, insistindo: Vamos, deixemos este lugar tão cheio de morte. Não deves esquecer a tua própria vida agora. Deves vivê-la! A face delicada da mulher foi acariciada pelo velho. Não respondeu. Tinha de dar tempo para que o Viagente encontrasse a paz com a sua própria existência e percebesse que a morte é quando nos esquecemos e não quando morremos. Já encontraste o que procuras?, questionou o velho. Procuras… ouviu-se. O Viagente não sabia responder. Porquê que caminhas tanto? Para onde vais? O velho, como já tinha ido, sabia que agora tinha de ficar, porque ali era o seu lugar, porque ali estava a sua companheira, ali descansava o amor e a vida que havia dentro dele.
O Viagente retirou a mão do aconchego da mão do velho e olhou novamente a lápide. A mulher chamava-se Dulce.
André Matias
Ricardo Oliveira
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